O cinema em Cuba e suas filas intermináveis

Acho que já contei para vocês que o cubano ama uma fila, lembram?! Se não me engano foi no texto que falei da sorveteria Copélia. Bom se vocês não lembram eu reforço... Cubano ama uma fila. E em dezembro é alta temporada em Cuba, turistas chegam de avião, cruzeiro, excursões e tudo mais. Nesse mesmo período acontece o Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, ou seja, Havana está fervilhando de gente.

Ir para Havana nesse período significa andar e tropeçar em gente a cada passo que você dá. A cidade parece um formigueiro com todo mundo misturado, falando cada uma língua, e todos tentado falar cubanês. Cubanos e turistas se misturam, os táxis (máquinas, leia também carros velhos) estão sempre cheios, bares, restaurantes e a Copélia têm filas enormes e os cinemas, ah! Os cinemas! Lembram daquela época que os cinemas eram nas ruas e não em shoppings? Não! Nem eu! Sinal que somos jovens e na minha querida Goiânia, cinema na rua é pra filme pornô ou para salas desconfortáveis com filmes dublados, mas sei que não é assim no Brasil todo, muito menos no mundo todo.

Fiquei encantada com os cinemas em Cuba. Espaços grandes, espalhados para todo lado na cidade de Havana, as vezes um perto do outro, outros mais distantes. Alguns pareciam uma galeria de arte com os posters de filmes feitos em serigrafia e expostos nos corredores que te levam até a sala de exibição. Alguns com salas que permitiam que os espectadores assistissem uma película com som ao vivo feito por uma banda convidada. Esse foi o caso do "El Inquilino" ou "The Lodger" de Alfred Hitchcock. No link abaixo vocês podem conhecer a história desse filme.


Diferente do que acontece no Brasil e em muitos outros países Latinos, o cubano vai ao cinema, ele aproveita o festival, eles formam uma fila de dar voltas e mais voltas para apreciarem um filme, principalmente se ele for um melodrama cubano, como foi o caso do "Vestido de Noiva", dirigido por Marilyn Solaya. O Festival não é somente para o apreciador e estudante ou produtores de películas, mas para o cubano também. Isso fica claro no preço, um peso cubano, ou moeda nacional. Que transformados para real, seriam 0,05 centavos ou menos, ou seja, é um preço irrisório até para o cubano.

A vontade e o engajamento do cubano para assistir aos filmes é tanta que eles enfrentam filas para comprar ingressos, que serão liberados depois que os credenciados do festival entrarem. É temos prioridade. Depois enfrentam filas para entrar à sala de exibição. É uma diversão em família. Eles compram a programação, escolhem o cinema, o filme, enfrentam filas, compram suas pipocas, pizzas e invadem o cines para apreciarem as obras em cartaz.

E não pensem que assistir filme em Cuba no cinema vai ser uma coisa comum como acontece na sua cidade, não é. Eles conversam com os personagens, falam entre si, aplaudem, vaiam, choram, atendem celular, conversam entre si, se não estão gostando levantam e saem falando no meio da exibição e por aí vai. No princípio a gente estranha, não sabe se presta atenção no filme ou na reação dos espectadores, os cubanos. Eu era a típica científica fazendo análise da reação do público com a história. Era uma medição de audiência das películas, principalmente daquelas que tinham temas tabus, como Praia do Futuro, Vestido de Noiva e outras tantas que falavam sobre homossexualismo.


No final o Festival foi interessantíssimo e uma vivência extraordinária tanto para apreciar e analisar os filmes, escolhendo e debatendo com os companheiros da escola, quanto para conhecer e entender o cubanos e Cuba que é, sem dúvida, o destino turístico de muita gente, que vem para cá na tentativa de conhecer o país, vivenciar o velho e o novo, as restrições, a ausência de tecnologias, as praias e outras belezas desse país caliente, mas que tem um inverno gelado em dezembro e janeiro. 

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