Chegadas e partidas, novidades e muito trabalho... assim foi o ano que passou
Depois de muita ralação vem a ansiedade de pegar o avião e voltar
para casa no final do ano. Curtir o recesso com a família, rever os irmãos e
apertar até sufocar, encontrar o afilhado, já com uma ansiedade impar de descobrir se ele ainda lembra de você, afinal de contas o pobre tem apenas dois
aninhos e uma dindinha louca que vive em Cuba. Compreendo que não é fácil para
ele.
Mas vamos ao balanço de final de ano que além do cansaço mental de começar uma vida nova
no segundo semestre do ano, com todas as mudanças que foram exigidas e com a dificuldade da língua quando se chega, temos ainda o fazer novos amigo, a saudade imensa dos velhos amigos que sabem o que passa na sua
cabeça sem que você tenha que dizer. Somado a isso, intensidade dos estudos e
projetos que a escola exige de você a ponto de conseguir fazer sua percepção de
tempo mudar e transformar o cansaço de quatro meses em no
mínimo um ano nessa nova rotina.
Mas vamos aos acontecimentos marcantes...Começa com viver toda a intensidade de produzir o
primeiro trabalho como diretora, mesmo que seja com um curta tão pequeno que só
durou 60 segundos. Descobrir que você pode atuar, para a comédia, mas pode! E
acreditem ou não, fiz sucesso nas minhas três aparições. Enfrentar um taller (aula) de
duas semanas de introdução a produção cinematográfica assumindo o cargo da tão temida
produtora, detentora de todos os direitos, da verba, do planejamento, do excell, etc, etc.
"Más allá de eso", apresentar o seu primeiro pitch em espanhol, pura adrenalina
Logo em seguida encarar ser produtora novamente, agora num
projeto de televisão e administrar duas semanas de produção de conteúdos para a transmissão ao
vivo no final da semana. Esse posso dizer me levou ao estresse máximo, que no final resultou num belo trabalho e um desentendimento, mas tudo se
resolveu e virou passado. Assim é a vida, muito trabalho, bons resultados, mesmo que entre tapas e beijos.
Depois de tanta ralação e produtividade, chega a hora de preparar-se para as férias. Finalizamos o ano de 2014 com uma
semana de aula de apreciação cinematográfica em que estudamos as loucuras
e obsessões de Buñuel e depois encaramos, pela primeira vez, o Festival Internacional
del Nuevo Cine Latinoamericano ou Festival Internacional de Cinema de La Habana.
O Festival aconteceu de 04 a 14 de dezembro e cumpríamos a maratona de ir para
Havana todos os dias escolher e assistir várias películas. Acreditem
isso foi uma dificuldade porque a programação só é liberada no dia anterior, em jornal
impresso ou na internet (mas essa não conta). Durante o Festival são exibindos muitos filmes ao mesmo tempo e em todos os cinemas da
cidade. Levando em consideração que em Havanca tem muitas salas de cinema e nessa época, muito filme bom rolando e estreiando, é difícil fazer a seleção do que assistir.
Nesse mesmo período, na EICTV existe um projeto para produtores que se chama "Nuevas Miradas" que nessa sétima edição estava com convidados
maravilhosos dando palestras (Ulrich Seidl, Chris Newman e muitos outros). Aconteceram também mini-cursos
sobre financiamentos, acompanhamento de projetos, DOC TV, entre outros. Tudo
isso só nessa primeira quinzena de dezembro. E o papai Noel
acreditando que só ele trabalha muito nesse mês!
Se ler isso já pode ser cansativo, imagina viver e ter
que se organizar para participar de tudo, fora o
emocional. Nesse mês é o momento de dar tchau para seus amigos-família que estão indo passar férias em seus
países e deixam a escola, que tinha uma rotina agitada e louca, se transformar num
mausoléu vazio ou "escuela zombie", como apelidamos. É um ambiente triste, com poucas pessoas e todas ansiosas para regressarem para casa ou
colocarem a mochila na costa e sair por aí "mochilando" para
descansar e voltar em janeiro inspirados. E, se não bastasse todo esse estresse
pré-férias, no dia de embarcar, já a caminho do
aeroporto, Raúl Castro, presidente de Cuba, me aparece ao vivo para comunicar o fim do embargo contra o EUA e a libertação dos presos políticos. Foi um mix de emoção e surpresa
pela notícia. E uma emoção ver todos os cubanos da escola parados de frente a TV. Passado o susto da notícia vem o momento de todo mundo especulando e criando teorias para o futuro. (Mas isso
merece um post especial e aos poucos eu vou contando como estão ocorrendo as mudanças por
aqui, não se preocupem).
Passado o estresse de mudanças e adaptação de nova
rotina vem a abençoada volta para casa e a renovação. Se sentir amada,
reencontrar todos aqueles que você ama de braços apertos e loucos para ouvirem
suas experiências e ver seus trabalhos. Abraçar, beijar, comer, comer de novo e
comer mais e mais. Tudo isso foi maravilhosamente necessário para recarregar a
bateria e ter certeza de que fiz a escolha certa, afinal de contas meu coraçãozinho estava com saudade da outra casa, a casa-escola, aquela
que me acolherá por três anos. Os corredores sempre cheios, a música caribeña
alta quase todos os dias da semana, meu quarto, meus
amigos-colegas-irmãos-família, minha rotina de aulas dia, tarde, noite e uma Bucanero
(delícia de cerveja cubana) no final disso tudo para relaxar e ir dormir,
porque amanhã começa tudo de novo, de segunda a sexta, sem parar.
Foi aí que eu voltei, depois de vinte dias no Brasil conectada e conversando em tempo real com os amigos da escola, para não
esquecer do espanhol. Na chegada já me senti super querida e acolhida de novo na minha nova
casa temporária. E venha que venha mais aulas exaustivas, mas que no final
terminam com lindos projetos, lindas parcerias e muito estresse. Assim é a
vida, cheia de saudades, cansaço e boas novas.
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