O Cinema Latinoamericano
Depois de passar alguns dias de ferias no Brasil
para passar o Natal e o Ano Novo com minha família e amigos regressei para
EICTV com toda a energia para trabalhar e estudar mais e mais. O ano começou
com duas semanas de aula sobre cine Latinoamericano.
Foram duas semanas estudando a cinematografia
da América Latina, e participei dessas aulas com uma curiosidade infantil de
conhecer a cultura, a política e a história de países tão próximos ao meu, mas
que conhecemos muito pouco. E foi incrível apreciar tantas obras
cinematográficas interessantes, fortes, algumas até repugnantes, mas que
estavam carregadas de significado cultural e histórico de uma época, de um país
de uma povo tão próximo da gente.
Nessas aulas não só debatíamos sobre os
diretores, a estética, o contexto, mas tínhamos a oportunidade de contribuir
falando um pouco da cultura do nosso país. E é nesse momento percebemos o
quanto o pensamento "o jardim do vizinho é sempre mais florido" é uma
premissa verdadeira. Numa aula sobre essa temática nada mais natural do que o
cinema brasileiro está em destaque, afinal de conta, somos um país enorme, de
uma cultura diversificada e com muitas grandes produções cinematográficas
conhecidas.
Mas a percepção que os outros tem do nosso país
é que não passamos por todas essas dificuldades que passam os países da América
Latina. Sim, eles acreditam, ou melhor acreditavam, que nossa ditadura não
teria sido tão cruel quanto a de outros países. Que a miséria no nordeste tinha
acabado e que aquela imagem de pobreza mostrada nas películas da década de 80
não existiam mais. Sim existe. Sim muitos artistas, militantes, famílias,
pessoas foram torturadas e perseguidas durante a ditadura no Brasil e muitas
até hoje não foram encontradas. Carnaval? Sim temos carnaval, mas não é como
aparece na televisão onde todos participam e não existe violência.
O Brasil vende uma imagem muito interessante e
bonita para o mundo. É errado? No meu ponto de vista não. Afinal de contas quem
gosta de ficar mostrando somente seus pontos negativos para os outros. É o que
percebemos quando estamos longe da nossa pátria, da nossa casa. Sempre ficamos
felizes quando vemos algo que nos representa, que tem nossa cor, nossa língua, nossa
música, nosso cine. É assim, ficamos super patriotas. Mas posso dizer que foi
muito rico debater esses problemas de política, pobreza, violência, cultura,
polícia na América Latina e descobrir que somos muito parecidos nos problemas,
mas também na produção de cinema, nas discussões para tentar mudar isso.

"Güeros", um filme mexicano de 2014 do diretor Alonso Ruizpalacios, também não fica atrás, ele já conquistou
os prêmios de melhor filme de estreia no Festival de Berlim e de melhor diretor estreante no Festival de Tribeca 2014. E aqui tem minha total
indicação. Um filme maravilhoso que indico para todos. Um história simples que
trata assuntos tão complexos como família, políticas governamentais de educação
e adolescência de uma maneira simples e encantadora.
Outra película que já havia lido sobre, mas conheci nas aulas e me
emocionou é "La Teta Asustada",
um filme peruano da diretora Claudia Llosa, uma produção peruana com coprodução
espanhola de 2008. Conta a história de um mito peruano da época da ditadura em
que as mulheres eram violentadas, mesmo estando grávidas, e passavam esse medo
dos homens e da violência pelo leite para seus filhos. Na película também
mostra a relação do patrão/empregado em países subdesenvolvidos. A exploração e
a falta de ética dos que têm mais se apropriando dos que têm menos como se isso
fosse um direito adquirido do mais forte. Um filme intenso, simples e com muita
significação quando você dedica um tempo para assistir e analisar.
Agora um filme cubano, afinal de contas estou aqui fazendo cinema. "Memoria del Desarrollo", filme
de 2010 de Miguel Coyula, um egressado da EICTV. O filme estreiou no Festival
Sundance desse mesmo ano e conquistou muitos prêmios em festivais, além de ser
eleita a melhor película cubana do ano. Resumindo um pouco a história, o
protagonista é um homem fracassado que abandonou Cuba durante a revolução e foi
para os Estados Unidos, mas não faz o que gosta e não é feliz com a vida que
tem. O filme é um mix de animação com colagem, documentário, ficção que vão
contando a história desse personagem. Super recomendado!
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