As sextas-feiras são todas iguais em qualquer lugar do mundo
Depois de uma semana intensa de estudos, aulas e
trabalhos sempre terminamos a semana com uma festa, já é uma tradição da escola
as grandes festas de sexta a noite. Nas sexta a idéia é sair do nosso corpo de
tanto bailar e beber. Pode parecer autodestrutivo a primeira vista, mas assim
como vocês que trabalham o dia todo e chegam ao ultimo grande dia da semana, a
sexta, e querem sair e beber pra relaxar, aqui em Cuba, mas especificamente na
EICTV, a intensidade da semana e de tudo que nos passa é bem mais
potencializada do que a da vida cotidiana em nossas cidades.
Não sei se consigo explicar, mas o fato de estarmos em
Cuba, na Escola da Utopia, um espaço de criação e educação livre, dinâmica, de
muito conhecimento e de muita exigência e que nos demanda uma atenção integral
já seria motivo suficiente para queremos descarregar nossas energias dessa
forma na sexta. Mas além de tudo isso, a saudade, a carência, a vontade de
ouvir aquela voz ou de receber aquele abraço nos torna ainda mais intenso e
autodestrutivos.
Somado a isso, temos a língua. Aqui todos falam
espanhol, mas assim como no Brasil existem diferentes sotaques aqui existem
diferente "asientos". Falamos em "cubanes", espanhol, "catalunho",
"costa riquenho", "porto riquenho", "guatemateco"
Aha! Venezuelano, "uruguacho" e até "espaningles" com o
nosso amigo jamaicano. E como eu não poderia esquecer, falamos também em
português. Vivemos em constante aprendizado, em cinema, de sobrevivência, de
autoconhecimento, de línguas e de tudo mais que aparecer. Nesse um mês e
algumas semanas que estou aqui me sinto como se estivesse a quase um ano fora
de casa, porque em tão pouco tempo aprendi tanto e conheci tantas pessoas que o
tempo parece correr diferente. A intensidade com que precisamos aprender e
receber carinho de todos em volta, pessoas essas que acabamos de conhecer, nos
deixa vulnerável e excitadas ao mesmo tempo, e nas festas de sextas é mais um
momento de expressar essa excitação.
Viver em outro país, em outra cultura, na verdade,
viver em contato com tantas culturas diferentes num mesmo espaço é uma sensação
maravilhosa e ao mesmo tempo muito rara. É viver e se descobrir diferente a
cada minuto. É estar só, mas acompanhada de muitas pessoas, é estar carente e
receber o melhor abraço de quem você acabou de conhecer, mas que será sua
família por três anos. É se sentir triste quando uma pessoa que você conheceu a
apenas um mês diz que vai embora porque o curso dela acabou. É se sentir feliz
em ajudar alguém que você mau conheceu dividindo um barrinha de chocolate ou um
café ou somente ouvindo um desabafo. É se preocupar porque aquela pessoa não
foi pra aula ou não apareceu pra almoçar, ou pior não apareceu na festa de
sexta-feira. É ser intenso e viver cada relação e/ou situação que a vida na
EICTV apresenta.
Então que venham as sextas que eu tenho muita energia
pra descarregar na pista de dança do "Rapidito" ao som de "en mi
isla tropical, yo no quiero trabajar, solo quiero una botella que me hace olvidar..."
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